O Problema do Bem e o Paradoxo de Epicuro

Bart Ehrman é um estudioso do Novo Testamento com foco na crítica textual, no Jesus histórico, e nas origens e desenvolvimento do Cristianismo primitivo. Ehrman é bastante conhecido no meio Cristão pelas suas críticas ao Novo Testamento e ao Cristianismo. Ehrman aprofundou os seus estudos, e lidou muito com a transmissão do texto Bíblico. Apesar de ter sido Cristão durante décadas ele  quando se deparou com aquilo a que ele chama de ‘erros’ no Novo Testamento,. Isso causou-lhe constrangimento, mas esse não foi o motivo para ele deixar  a fé Cristã. O seu verdadeiro motivo de ter deixado o Cristianismo é revelado por ele próprio num podcast com Muhammad Hijab, intitulado ‘Who Got Jesus Right: Muslims or Christians?’ (Quem tem o Jesus correcto: Muçulmanos ou Cristãos?) Onde Ehrman afirma: “ A razão que eu deixei a fé não foi porque eu sabia que a Bíblia continha erros, eu sabia disso durante bastante tempo, e eu permaneci Cristão por muito tempo sabendo disso. O que me fez deixar a fé, eu cheguei a um ponto em que eu já não conseguia acreditar que existia um Deus no mundo que era activo. Um Deus amoroso poderoso, que era activo no mundo, dado o enorme sofrimento pelo qual as pessoas passavam. Eu já não acreditava mais.”[1]

Bart Ehrman tornou-se um ateu depois de debater-se  com os problemas filosóficos do mal e do sofrimento. Ehrman é mais um exemplo de quem perdeu a fé entre muitos outros dentro da comunidade Cristã por este motivo. Por esta razão, venho providenciar uma prespectiva de como este problema pode ser contornado.

Muito já tem sido escrito sobre este problema filosófico, com isso em mente irei dar a minha contribuição sobre o assunto, já que ao dissecarmos o problema, no meu ponto de vista este argumento é uma desculpa para deixar a fé, e não um motivo válido.

O problema filosófico do mal, é a questão de como conciliar a existência do mal e do sofrimento, com um Deus omnipotente i.e. todo-poderoso, omnisciente i.e. que sabe tudo e omnipresente i.e. que está ao mesmo tempo em toda a parte. Actualmente, existem diferentes definições desses conceitos. A apresentação mais conhecida é chamada de ‘Paradoxo de Epicuro’[2], atribuído ao filósofo grego Epicuro.

Em primeiro muitas coisas são assumidas em relação a Deus por parte de quem contende que Deus não pode existir, porque o mal existe.

O Senhor diz “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.”  Isaías 55:8

Disse Elihu a Job: “Por que razão contendes com ele (i.e. Deus)? Porque ele não dá contas de nenhum dos seus feitos.” Job 33:13

Com isto em mente, temos que entender que os argumentos apresentados pelos críticos são apenas suposições. Pois o Deus de Abraão, não é moldado à maneira do homem, nem tem que agir numa determinada maneira só porque nós achamos que Ele deveria agir assim.  O argumento é legitimo, mas facilmente cai na categoria de falácia, e o motivo é este. Se Deus vê o mal e é omnipotente Ele deveria agir. Se não age, então não é benevolente. Deus não tem que estar condicionado à opinião de outrem. Se age ou deixa de agir cabe a Deus apenas a decisão, pois há vários episódios ao longo da história em que Deus age e demonstra a sua benevolência.

Assim, o SENHOR salvou Israel naquele dia da mão dos egípcios, e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar.” (Êxodo 14:30)

Agora pois (disse José), não vos entristeçais, nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá, porque, para conservação da vida, Deus me enviou diante da vossa face. Porque já houve dois anos de fome no meio da terra, e ainda restam cinco anos em que não haverá lavoura nem sega. Pelo que Deus me enviou diante da vossa face, para conservar vossa sucessão na terra e para guardar-vos em vida por um grande livramento. Assim, não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egipto.” (Génesis 45:5-8)

Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar os seus corpos, para que não servissem nem adorassem algum outro deus, senão o seu Deus.” (Daniel 3:28)

Então, Daniel falou ao rei: Ó rei, vive para sempre! O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões, para que não me fizessem dano, porque foi achada em mim inocência diante dele, e também contra ti, ó rei, não tenho cometido delito algum. Então, o rei muito se alegrou em si mesmo e mandou tirar a Daniel da cova; assim, foi tirado Daniel da cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus.” (Daniel 6:21-23)

E lançaram mão dos apóstolos, e os puseram na prisão pública. Mas de noite um anjo do SENHOR abriu as portas da prisão, e, tirando-os para fora…” (Actos 5:18-19)

Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucas (isto é oito) almas se salvaram pela água.” (1Pedro 3:20)

A Bíblia está repleta deste tipo de exemplos em relação de como Deus intervêm e mostra a sua benevolência.

Se assumirmos que Deus não existe porque existe o mal no mundo, o que dizer do bem que também existe no mundo? Se usarmos o mesmo tipo de critério, deveríamos então chegar à conclusão que Deus existe porque também existe o bem no mundo. Como exemplo, quando nasce uma criança, o jubilo dos pais e dos familiares é tão grande que se esquece do mal por um tempo, e a alegria preenche o nosso coração a ponto de podermos dizer que algo maravilhoso como o nascimento de um bebé só pode vir da parte de Deus. O foco deste argumento gira em torno do mal exclusivamente, mas a realidade é que nunca lidamos com o bem que também existe. E isso é a queda de quem argumenta que por existir mal e sofrimento e Deus não agir, é a prova que Deus não existe.  Como então poderão responder ao facto de existir o bem e a alegria no mundo? Até agora esta questão ainda não foi respondida.

Em 1 João 4:8 lemos, “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.”

O texto não diz que Deus é só amor, mas que é amor. Pois também em Isaías Deus diz, “Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor‎, e não há outro.  Eu formo a luz, e crio as trevas, eu faço a paz, e crio o mal, eu, o Senhor, faço todas estas coisas.” Isaías 45:6,7

Vemos por este texto em Isaías, a maneira como Deus age. Adão e Eva quando comeram da árvore do fruto, ficaram a conhecer o bem e o mal (Génesis 3:5). Uma verdade que temos de compreender é esta, que tanto o bem como o mal existem no mundo, e não só o mal. Poderemos argumentar em relação a isso, e ao modo de como Deus age, mas se formos sinceros, sabemos que não temos qualquer tipo de moral em dar o exemplo nem a ditar o que Deus deveria fazer ou não fazer. Pois quantas vezes temos a oportunidade de fazer o bem, e acabamos por não o fazer. Eu coloco está questão: quem realmente pensamos nós ser, para dizer o que Deus tem ou não tem que fazer? Se Deus realmente quisesse, não tinha que acabar como o mal, bastava não introduzir a árvore do conhecimento do bem e do mal no Jardim do Éden. Este foi o modo que Deus desejou actuar, questionar as acções de Deus é subjectivo, porque todos os dias questionamos as acções e opiniões dos outros, porque achamos que nós na sua posição, faríamos ou diríamos melhor.

Sutil é o Senhor, mas mal-intencionado ele não é.”, disse Albert Einstein.

Agora que  entendemos o modo de Deus realmente agir em relação ao mal, e que só a Ele cabe a decisão de como e quando o fazer, uma pergunta mais inteligente do que aquela que o Paradoxo propõe, é esta: Se existe o mal no mundo, será que Deus planeou algo para acabar com esse mal?

E a resposta afirmativa é esta: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” João 3:17

A salvação das almas humanas, o fim do mal e por sua vez a extinção da morte (1 Coríntios 15:26), faz parte dum plano que Deus Todo-Poderoso, já pôs em execução através do seu Filho Jesus.

E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17:3

Este plano de Deus que irá por fim ao mal, começou em Jerusalém, e irá albergar todas as nações. “E em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém.” Lucas 24:47

Todo aquele que sustenta o problema do mal, tem que definir primeiro quem é, e o que é Deus. E só a partir daí, poderemos debater o assunto mais profundamente. Os ataques envolvem-se essencialmente num só aspecto, e descartam todo o resto da revelação contida nas Escrituras, pois as muitas profecias que já se cumpriram, dão testemunho da existência de Deus.

Porque Deus amou o Mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:16

Em conclusão, o Deus de Abraão, é um Deus que age à sua maneira e a seu tempo, e permite que haja o mal e o sofrimento, da mesma maneira que permite que haja o bem e a alegria. E que também já pôs em marcha o seu plano de salvação que irá culminar na renovação de todas as coisas criadas. “E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas.” Revelação 21:4.

Ao contrário dos descrentes, todo o Cristão vive com esta garantia, e regozija por o seu Deus estar presente e activo nas suas vidas e no mundo.

Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar, ele nos livrará do forno de fogo ardente e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste.” Daniel 3:17-18

Por outras palavras se Deus nos quiser livrar de algum mal, Ele o poderá fazer, mas se não o fizer, isso não vai ser a razão para não confiar e acreditar n’Ele e subscrever a ideias de homens, abandonando a nossa fé, e assim perder a esperança e o propósito que as nações não têm.


[1] Who Got Jesus Right: Muslims or Christians? | Mohammed Hijab Interviews Dr. Bart Ehrman – YouTube – ver a partir do minuto 7:42

[2] A lógica do paradoxo proposto por Epicuro toma três características, omnipotência, omnisciência e omnibenevolência como, caso verdadeiras aos pares, excludentes de uma terceira. Isto é, se duas delas forem verdade, excluem automaticamente a outra. Trata-se, portanto, de um trilema. Isto tem relevância pois, caso seja ilógico que uma destas características seja verdadeira, então não pode ser o caso que um Deus com as três exista. Enquanto omnisciente e omnipotente, tem o conhecimento de todo o mal e poder para acabar com ele. Mas não o faz. Então não é omnibenevolente. Enquanto omnipotente e omnibenevolente, então tem poder para extinguir o mal e quer fazê-lo, pois é bom. Mas não o faz, pois não sabe o quanto mal existe e onde o mal está. Então ele não é omnisciente. Enquanto omnisciente e omnibenevolente, então sabe de todo o mal que existe e quer mudá-lo. Mas não o faz, pois não é capaz. Então ele não é omnipotente.

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