Resposta ao Rabbi Jacob de Oliveira

Veio à minha atenção o vídeo do Rabbi Jacob de Oliveira intitulado: “Porque o povo Judeu não aceita Jesus como Messias”, onde o Rabbi apresenta algumas objecções á Brit hadashah, muitas das quais são contrárias à realidade da Brit hadashah. Por isso tomei a posição de responder aos argumentos apresentados.

O formato que segue é apresentado como resposta, tentando abordar todos os pontos de critica a Yeshua e a Brit hadashah feitos pelo Rabbi.

Para quem não assistiu ao vídeo do Rabbi Oliveira , abaixo está o link, para ter um melhor entendimento do argumento  em questão.

OBJECÇÕES

1-  Deus engendrou um filho numa mulher casada.

– Em primeiro Miriam e Yosef estavam na primeira fase do casamento (erusin), apesar da primeira fase proibir a mulher de ficar com outro homem e só conseguir dissolver a situação através de um (get), o casamento ainda não tinha sido oficialmente consumado (nesuin).

2- Yeshua não têm tribo por ser filho de Hashem e não de Yosef.

– A simples resposta é que Yeshua se tornaria da tribo de Judah através de adopção. Um caso na Torah nos mostra um possível caso dessa natureza. Caleb ben Jefone o Kenezeu (Num 32.12), um possível gentio (Gen 15.18-21), aparece em (Num 13.6) como sendo da tribo de Judah. É possível que ele tenha sido adoptado e assim se tornar um dos cabeças da tribo.

3- Yeshua não foi ungido pelo Sanhedrin para se tornar oficialmente o Masshiah.

– É verdade que um Rei ou um Sacerdote são tradicionalmente ungidos com óleo antes de exercer as suas funções, mas o problema é que não existe nenhuma profecia que nos diga que o Masshiah terá de ser ungindo pelo Sanhedrin, para ser reconhecido e aceite pelo povo. Aliás se o Masshiah aparecesse agora, de acordo com a ideia do Rabbi Oliveira, isso seria uma tarefa impossível, pois não temos um Templo ou Sacerdócio em acção que pudesse ungir o Rei Masshiah.

4- O Cristão têm de ouvir a Yeshua ou ao Sanhedrin de acordo com Mateus 23.

– Provavelmente a maioria dos Cristãos, não reconhece o Mateus Hebreu de Shem Tov como autoridade,  no entanto na minha opinião resolve o problema apresentado do capitulo 23, e nos dá luz sobre o que Yeshua estava a falar.

(Mateus Hebreu de Shem Tov Cap. 23.3) “ Portanto tudo o que (os P’rushim e os Sof’rim) vos disserem isso fazei e observei, mas não façam segundo os Takanot e os Ma’assim deles, porque falam mas não praticam.”

O problema que Yeshua aponta aqui são os Takanot e os Ma’assim. É óbvio que ele incentiva aqui e noutros lugares da Brit hadashah a observarem a Torah, mas rejeitando as tradições. Por exemplo a lavagem de mãos, ou mais tarde o uso da Kippah, um costume que se tornou preceito. Se hoje o Rabbi Oliveira, não vê os Cristãos a observarem a Torah é porque a maioria deles são gentios, e o que é requerido de um gentio foi delineado em Actos 15. Se bem que o Rabbi sabe que Hashem nunca fez um pacto com os gentios, e que de acordo com o Judaismo, de um gentio é só requerido observar as 7 leis de Noah. Portanto se um Judeu hoje crente em Yeshua, não cumpre a Torah, isso é entre ele e Hashem. Pois os primeiros seguidores Judeus crentes em Yeshua cumpriam a Torah embora rejeitando as tradições Rabínicas, como por exemplo dos Notzrim.

5- Yeshua veio para o que era seu, e os seus o rejeitaram.

– É provável que Yohanan 1.11 seja uma alusão a Isaías 49. Esta passagem faz parte de um dos Cânticos do Servo, é verdade que o Rashi identifica o Servo como sendo literalmente o povo de Israel, mas o Servo de Adonai também é identificado como o Masshiah, por exemplo o Rabbi Moshe Alshekh, nos diz que o Servo de Adonai em Isaías 53 é identificado como o Rei Masshiah:

“Os nossos Rabbis aceitam e confirmam com uma voz, que o profeta (Isaías), está a falar do Rei Messias.” (Diver&Neubauer, Isaias 53 de acordo com os interpretes Judaicos, Oxford 1899).

Olhando agora para Isaías 49.4-6, o Servo de Hashem nos diz que foi em vão que ele trabalhou, e isso está de acordo com a objecção feita a Yeshua, por ele ter sido morto, o povo Judeu achou que ele não era o Masshiah e que a sua missão tinha falhado (Lucas 24.19-21). Outro ponto no verso 3, o Servo é identificado com sendo Israel, mas no verso 6 Hashem nos diz que o Servo irá reerguer as tribos de Jacob e restaurar a descendência de Israel, não só, mas ele também será uma luz para as nações. Desde que Yeshua apareceu milhares de pessoas através dos séculos têm vindo a adorar a Hashem por causa deste Judeu, e o conhecimento de Adonai têm se espalhado aos quatro cantos da terra, se o Servo é somente referido a Israel como povo, este é um aspecto que não foi cumprido até hoje.

Agora a pergunta surge, como é que o Servo/Israel, se pode restaurar a si próprio? É evidente que o Servo no verso 6 refere-se ao Masshiah. Já o verso 5 pode ser facilmente lido à luz de “vir aos seus, mas o seus o não o receberam.”

6- Foi em nome de Yeshua que muitos Judeus foram mortos ao longo da Historia.

– Não podemos culpar Yeshua pelos actos daqueles que fazem atrocidades em seu nome. Pois o mesmo argumento poderia ser usado contra o povo de Israel, que rejeitava e matava  os seus profetas em nome de Moshe, é evidente que nem Moshe ou Yeshua devem ser culpados pelas acções de terceiros. Yitzhak Rabin foi assinado por um judeu ortodoxo, devemos culpar agora Moshe pelo o que ele fez?

7- Faltam nomes na genealogia de Mateus.

– O ponto que Mateus faz é óbvio, ele menciona os nomes que são relevantes teologicamente, para nos dizer que Yeshua é descendente do Rei David. É claro que ele saberia que um dia iriam conferir a sua árvore genealógica e que iriam ver que lhe faltavam nomes. Que ele fez isso propositadamente ou mentiu, é levantar uma falsa suposição. E de acordo com a genealogia apresentada, ela está correcta, e não invalida ou contradiz a árvore genealógica completa. O que Mateus aparenta estar a fazer é ligar o numero 14 das gerações, com o nome David, que na gematria corresponde também ao numero 14.

8- Os magos presentes no nascimento de Yeshua.

– O Rabbi Oliveira nos diz que os magos são citados num evangelho a proclamarem o que viram, e noutro evangelho a saírem em silêncio, por causa de Herodes. O Rabbi nos diz que num lado são mencionados como magos, noutro como reis. O Rabbi aqui comete um erro, apenas Mateus cita os magos, eles não são mencionados noutro evangelho, não são mencionados como sendo reis, nem a saírem a proclamarem o que viram. É possível que aqui tenha confundido o relato de Lucas sobre os pastores que foram avisados por um anjo sobre o nascimento de Yeshua, como sendo um único relato. É o equivoco do Rabbi que causa a contradição e não os evangelhos.

9- Depois da visita dos magos em Mateus , Yeshua vai para o Egipto. No entanto Lucas omite a viagem.

–  Por Lucas omitir a viagem não o faz entrar em contradição com Mateus. Os evangelhos tratam-se de narrativas teológicas em vez de cronológicas, isso também não quer dizer que esteja cronologicamente incorrecto,  apenas não segue a ordem de eventos tal e qual como as pessoas do ocidente no sec. XXI estão habituadas. É de mencionar aqui o conceito Rabínico, de que não existe nem antes nem depois em termos de ordem de eventos. Aproveito também para falar aqui da comparação que o Rabbi Oliveira nos pede para fazer dos relatos da ressurreição, quantas mulheres é que foram ao túmulo, quais os seus nome, etc. Se o mesmo critério feito a Brit hadashah, for utilizado no Tanach, o Rabbi Oliveira irá se deparar com o mesmo tipo de problema, por exemplo: 2 Samuel  24, nos diz que Hashem incitou a David, já em 1 Cronicas 21 nos diz que foi satan que incitou a David, do principio ao fim ambos os relatos tanto de Samuel como de Cronicas apresentação contradições. Para cada contradição que o Rabbi Oliveira apontar na Brit hadashah poderei apontar cinco no Tanach. Se quisermos abordar a Bíblia para a denegrir poderemos o fazer, ou então poderemos a harmonizar. A resposta á pergunta, como é que os Judeus, podem acreditar em relatos confusos (i.e. relatos da ressurreição), da mesma maneira que existem relatos confusos no Tanach, e os Rabbis os interpretam e os harmonizam. O mesmo fazem os Judeus crentes em Yeshua com a Brit hadashah.

10- A perícope da adúltera.

– É verdade que esta perícope da mulher adúltera é contestada por estudiosos, por ser omitida nos manuscritos mais antigos e por aparecer noutros evangelhos. Contudo não há nada nesta história que contradiga outras passagens nos evangelhos. Sobre Yeshua escrever no Templo, a palavra Grega εγραφεν, pode ser traduzida tanto como escrever ou desenhar. A passagem não nos diz que ele escrevia na terra apenas no chão, possivelmente desenhando letras sobre o chão do Templo. Não temos também fundo se a mulher teria sido apanhada naquele instante, ou há mais tempo, por isso o ponto que o Rabbi Oliveira faz aqui é nulo. Desafio aqui o Rabbi a produzir uma referência do primeiro século, que proibia ensino e discussões no pátio do Templo entre Rabbis e Talmidim, e que também era proibido assentar-se no pátio do Templo. O pátio do Templo para mim seria o sitio mais indicado ou algures perto do Templo, pois a expressão “ensinava no Templo” pode ser ambígua.

11- Os evangelhos foram escritos por um Padre no sec. VIII.

– A datação dos evangelhos varia entre estudiosos, contudo é unânime que os evangelhos foram escritos no primeiro século. Desafio aqui o Rabbi Oliveira a produzir apoio para a sua suposição errónea, que os evangelhos foram escritos por um Padre no sec. VIII. É de nota aqui que os País da Igreja confirmam os evangelhos muito antes do sec. VIII. Esta afirmação é vergonhosa para alguém que se auto intitula um Rabbi e Hacham.

12-  A palavra זָ֫רַע (zera) em Isaías 53.10.

– É verdade que a palavra Zera significa semente; descendência. Mas o erro cometido pelo Rabbi e por muitos outros anti-missionários no passado é dizer que a palavra Zera só se  refere-se literalmente a filhos, coisa que Yeshua não teve, e se dissermos que aqui se refere as seus discípulos estamos a distorcer o significado da palavra. O ponto que o Rabbi deliberadamente ignora é que Zera pode ser usada como alegoria, e temos algumas passagens dessa natureza em Isaías, por exemplo Isaías 57.3 é evidente que Zera aqui não pode ser empregue literalmente. Se Zera em Isaías 53.10 refere-se aos discípulos de Yeshua está aberto para interpretação. Por ultimo apesar de Isaías 53 ser usado constantemente na Brit hadashah, este versículo não é utilizado.

13- A palavra עלמה (almah) em Isaías 7.14.

– A palavra Almah é traduzida por jovem moça. A palavra Almah também não implica que denote virgindade, mas Almah nunca é usada nas Escrituras para descrever uma jovem já casada. É de ter em mente que uma jovem Judia com idade de se casar deveria ser casta. É  de frisar também que Rashi em Shir haShirim 1.3 lê (עֲלָמוֹת) como virgens. Ver o comentário em Chabad.org.

1.3 – Por causa da fragrância de seus bons óleos, seu nome é ‘óleo derramado’. Portanto, as donzelas te amavam. ג לְרֵ֨יחַ֙ שְׁמָנֶ֣יךָ טוֹבִ֔ים שֶׁ֖מֶן תּוּרַ֣ק שְׁמֶ֑ךָ עַל־כֵּ֖ן עֲלָמ֥וֹת אֲהֵבֽוּךָ:
Por causa da fragrância de seus bons óleos: Um bom nome é referido pela expressão “bom óleo”. לְרֵיחַ שְׁמָנֶיךָ טוֹבִים: שֵׁם טוֹב נִקְרָא עַל שֵׁם ‘שֶׁמֶן טוֹב ‘:
Por causa da fragrância de seus bons óleos: que aqueles que habitavam nos confins da terra cheiravam, [isto é,] aqueles que ouviram falar de Tua boa fama quando Tu realizaste obras impressionantes no Egito. לְרֵיחַ שְׁמָנֶיךָ טוֹבִים: שֶׁהֵרִיחוּ בָהֶם אַפְסֵי אֶרֶץ אֲשֶׁר שָׁמְעוּ שִׁמְעֲךָ הַטּוֹב בַּעֲשׂוֹתְךָ נוֹרָאוֹת בְּמִצְרָיִם:
o teu nome é ‘óleo derramado.’: O teu nome é [assim] chamado. Diz-se sobre você que você é óleo que está constantemente sendo derramado para que seu perfume perfumado flutue a uma distância, pois assim é a natureza do óleo perfumado. Enquanto estiver em uma garrafa selada, seu cheiro não carrega. Se alguém o abre e derrama o óleo em outro vaso, seu cheiro carrega. שֶׁמֶן תּוּרַק: נִקְרָא שְׁמֶךָ, לִהְיוֹת נֶאֱמַר עָלֶיךָ, “אַתָּה שֶׁמֶן אֲשֶׁר תּוּרַק תָּמִיד לִהְיוֹת רֵיחַ עָרֵב שֶׁלְּךָ יוֹצֵא לְמֵרָחוֹק”, שֶׁכֵּן דֶּרֶךְ שֶׁמֶן עָרֵב, בְּכָל עֵת שֶׁהוּא בִצְלוֹחִית חֲתוּמָה, אֵין רֵיחוֹ נוֹדֵף, פּוֹתְחָהּ וּמֵרִיק שַׁמְנָהּ לִכְלִי אַחֵר, רֵיחוֹ נוֹדֵף:
Portanto, as donzelas vos amavam: Jetro veio ao som das notícias e converteu-se; também Raabe, a prostituta, disse: (Js. 2:10 ss.): “Porque ouvimos como o Senhor secou, etc.”, e assim, “o Senhor teu Deus, Ele é Deus no céu, etc.” עַל כֵּן עֲלָמוֹת אֲהֵבוּךָ: בָּא יִתְרוֹ לְקוֹל הַשְּׁמוּעָה וְנִתְגַּיֵּר. אַף רָחָב הַזּוֹנָה אָמְרָה “כִּי שָׁמַעְנוּ אֵת אֲשֶׁר הוֹבִישׁ וגו'”, וְעַל יְדֵי כֵן “כִּי ה’ אֱלֹהֵיכֶם הוּא אֱלֹהִים בַּשָּׁמַיִם וגו'”:
donzelas: virgens, uma vez que o texto O compara a um jovem cujo amado o preza, e de acordo com a alegoria, as donzelas são as nações. עֲלָמוֹתבְּתוּלוֹת, לְפִי שֶׁהַדִּבּוּר דִּמָּהוּ לְבָחוּר שֶׁאֲהוּבָתוֹ מְחַבַּבְתּוֹ. וּלְפִי הַדֻּגְמָא: הָ”עֲלָמוֹת” הֵן הָאֻמּוֹת:

A Septuaguinta que foi completada no sec. II a.e.c. traduz Almah como Παρθένος (Parthenos; virgem), daí a evidente utilização de Mateus de virgem no seu evangelho. A Brit hadashah utiliza constantemente a Septuaginta por ser a língua Grega a mais falada no Império Romano, e por ser a tradução Grega o tipo de Escrituras que os leitores estariam mais familiares e que poderiam eventualmente consultar. Em suma apesar de a palavra Almah não querer dizer explicitamente virgem, não  invalida que Miriam não fosse uma virgem com idade para se casar na altura do nascimento de Yeshua.

14- Zacarias 10.12.

– Em primeiro os Massoretas copiaram e editaram o texto Hebraico entre o sec. VII e X, como é que o Rabbi nos pode dizer que os Cristãos mudaram a pontuação massoreta de Zacarias 10.12 em Yohanan 19.37. Já foi mencionado acima que os evangelhos são datados dentro do sec. I,  portanto o texto Hebraico do primeiro século que algum Cristão possuis-se ou consulta-se seria idêntico aos manuscritos do mar morto, a pontuação Massoreta só surgiu séculos mais tarde do evangelho de Yohanan ter sido escrito.

Yohanan 19.37 nos diz : “Olharão para aquele a quem trespassaram.”

Mas Zacarias 12.10 nos diz: “e eles olharam para mim (Hashem) a quem trespassaram.”

Em primeiro muitos exegetas Cristãos apontam aqui uma referência de que Yeshua é identificado como sendo Deus, eu acho tal aplicação inapropriada. O versículo 12 fala-nos de duas pessoas, 1- Hashem onde ele nos diz que iram olhar para ele, e 2- aquele a quem trespassaram, será lamentado. A minha abordagem ao texto seria, trespassar o Masshiah será o mesmo que trespassar Hashem, porque o Masshiah representa Hashem ele é o seu Eved, Sheliah, e uma vez que o povo se apercebe disso o irão lamentar. É evidente que Yohanan vê aqui mais um ponto teológico do que gramático. É importante aqui frisar o tipo de linguagem que Zacarias usa, tal como Primogénito, e Filho Único, que é um tipo de linguagem predominante na Brit hadashah. (Yoha 1.18; Colo 1.15)

Zacarias 12.10 é interpretado no Talmud Sukka 52a e por Rashi como se referindo ao Masshiah ben Yosef, apesar da interpretação ser diferente da interpretação Cristã, ambos os lados vêm aqui uma aplicação messiânica.

15- A Brit hadashah confunde a geografia.

– Como já foi mencionado acima sobre as contradições, se o mesmo tipo de critério que o Rabbi Oliveira usa na Brit hadashah, usar no Tanach vai destruir completamente a sua fé. O que os exegetas Judeo-Cristãos fazem é reconciliar tais passagens, estes pormenores são mínimos comparados com a harmonia da mensagem em geral, e do poder das escrituras como um todo, que têm vindo a mudar o coração do homem.

Por ultimo, observamos que as objecções levantadas parecem fortes inicialmente , mas quando dissecadas não têm qualquer substância.